Lenda dos três amores

Victor Carvalho
5 min readJun 23, 2024

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Conto

Não é simplesmente adorável a forma como me tortura com suas lembranças? O amor toca meu coração de maneira humilhante. Era cruel e arrogante pensar que eu poderia ser a causa de um destino traiçoeiro. Eu? Sou um nada, e assim como o nada me rejeita, eu rejeito a verdade de quem amei mais do que a mim mesmo. Ele mal olha nos meus olhos quando o chamo. Sou visto como uma praga, um mendigo desviado pelos outros, ignorado pelo “puro”, senhor da verdade e de todo conhecimento. Não mereço ajoelhar-me aos seus pés mais uma vez em busca de salvação.

Após ser lançado nessa cruel circunstância, tem sido difícil ajustar-me ao mundo sem minha família real, sem a aprovação de meu amado ideal. E eu, estou tentando, juro que estou, seguindo em frente com devaneios, apenas com um fio de esperança ainda me prendendo aqui. A morte me saciaria, mas o nome dele sempre foi morte, o mais lindo.

Talvez os serafins estivessem certos ao me alertarem sobre a chegada de um misterioso que levaria minha paz como as manhãs de inverno, um frio aconchegante. Eu o neguei. Acreditei em um amor real. Os boatos dos três amores viriam a existir. Ele seria o monstro que habitou e então tudo levou? (NUM2??)

Contava à minha velha guarda sobre as rodas brilhantes e gigantes, onde nos beijávamos cintilantes. Tentei permanecer nesse pensamento, mas essas tentativas foram inúteis sem a noção de quem era minha plasmática companhia.

Quando poderei ter meu final feliz? Meu clamor é algo tão simples de alcançar, mas tão distante de minhas mãos. Não poderei ser feliz enquanto minha felicidade personificada voa para longe. Era meu, mas morri, e ele já não me pertence mais. Nosso amadurecimento veio e então se foi. Nosso fogo permaneceu aceso até sua escolha; o meu eu já não opinava mais.

A paz reconfortante antes do tsunami era algo refrescante, mas tudo se tornou tragédia. Nossas vidas presas a fivelas, minhas mãos marteladas na cruz, uma repreensão pela minha falta de sensibilidade. Mas a quem foi retirada a paz?

E agora, o que fazer com meu amor? O que fazer com meus planos desenhados? O que fazer com as escritas de sua parede quando os autores se vão para longe? Era eu. Sempre foi a mim que você prometeu um final feliz, mas apenas tive uma continuidade em dor e sofrimento. Se eu fosse seu cordeiro leal nas horas mais difíceis, se entregasse meu cordão umbilical e a ti me conectasse, seria minha ou sua entrada para o céu? Mas espera, a ti fiz tudo isso e mais do que deveria.

Hoje choro com minha antiga foto na mão. O vermelho me fazia feliz, mas fui pintado de azul e desaprendi a escutar as músicas como deveriam ser escutadas. Esse exemplo cruel de amor mal correspondido deve ser exposto. Aos demais, minha mais solene gratidão por escutarem meu perdão.

Enquanto assombrações de tormento estiverem próximas a nós, e sempre estarão, logo na esquina à minha espera, me acompanhando, não seremos um só unidos. Suas palavras me machucam, abrem rachaduras que tornam minha sensibilidade visível, e meus ex-amores me afogam, tornando-o passado em mar de flores. Sendo pintado e bordado por farsantes, fui feito de piada, e nisso sempre consegui desempenhar um bom papel, como um sacrifício de sangue.

E quando você sabe da sensação da perdição, você sabe. Nota as diferenças pretas contornadas, com setas apontadas ao problema: ELE, o matadouro preferido a magoar nosso amor, não é mesmo? Mas eu sou jarra que carrega tudo o que nela é despejado. Eu poderia guardar também os cacos de seu coração fragilizado, usando minha vitalidade para sua cura. Por ti isso era feito, mas a “praga” nunca é ouvida como realmente merece.

Minha vontade era voltar, mas não saberia se seria apenas agradável para você ou um amor quente como foi para mim. Não me diga mais que fui o morno em sua concepção, pois eu tentei, de todas as formas, e fracassei. Sempre segui nas direções opostas ao meu medo, mas quando te vi, não me afastei, apenas me aproximei, e me arrependo tanto disso. Mas ali, em frente à sua porta, naquele último dia de estações que jamais voltariam, chorei até minha negação se partir junto a mim, foco em um estranho, me despedi.

Estava escrito, durante curtos períodos, a amostra para que todos à sua e à minha volta vissem o quanto por você já chorei. Nem após pedir as contas à minha velha guarda eu pude ter paz. Nem mesmo a chegada dos demais. Você quem a levou na realidade.

Poesia (MODIFICADO)

Não é adorável a tortura das lembranças,
O amor toca o coração com humilhantes lanças.
Cruel e arrogante pensar que fui a causa,
Eu? Sou nada, rejeito a verdade sem pausa.

Ele mal olha nos meus olhos quando o chamo,
Sou visto como praga, um mendigo sem amo.
Ignorado pelo “puro”, senhor de saber,
Não mereço ajoelhar-me aos seus pés, em desespero me perder.

Lançado na cruel circunstância, tento ajustar-me,
Sem minha família real, sem meu amado ideal.
Sigo em frente com devaneios, esperança frágil,
A morte me saciaria, mas o nome dele é mortal e ágil.

Talvez serafins estavam certos ao me alertar,
Um misterioso roubaria minha paz, um frio aconchegar.
Neguei, acreditei em um amor real,
Os dois amores se foram, e ele, um monstro final.

Contava à velha guarda sobre rodas brilhantes,
Beijos cintilantes, pensamentos marcantes.
Tentativas inúteis, sem noção da companhia,
Quando terei meu final feliz, em plena agonia?

Clamo por um desejo simples, tão distante de alcançar,
Felicidade personificada voa longe, meu sonho a escapar.
Era meu, mas morri, ele já não pertence,
Nosso fogo permaneceu, até sua escolha, meu eu não venceu.

A paz antes do tsunami era refrescante,
Tudo virou tragédia, vidas presas em corrente.
Minhas mãos na cruz, repreensão cruel,
Quem perdeu a paz, nesse amor tão fiel?

E agora, o que fazer com o amor,
Com planos desenhados, escritos sem autor?
Prometeste final feliz, só dor e sofrimento,
Leal nas horas difíceis, um céu de tormento.

Choro com a antiga foto na mão,
Vermelho me fazia feliz, agora verde é canção.
Amor mal correspondido, cruel exemplo,
Minha gratidão por ouvirem meu lamento.

Tormento nos assombra, sempre estará,
Na esquina à minha espera, nunca se afastará.
Palavras machucam, rachaduras visíveis,
Ex-amores afogam, mar de flores invisíveis.

Pintado e bordado por farsantes,
Feito de piada, papel constante.
Perdição, sensação reconhecida,
ELE, matadouro, amor em despedida.

Sou jarra que carrega o despejado,
Guardo cacos do coração fragilizado.
Por ti era feito, mas “praga” não ouvida,
Minha vontade era voltar, mas a dor é sofrida.

Não me diga que fui morno, concepção tua,
Tentei de todas as formas, e fracassei na luta.
Segui direções opostas ao medo,
Quando te vi, aproximei-me, agora me arrependo.

Naquela porta, último dia de estações,
Chorei até a negação partir, milhões de emoções.
Despedi-me, foco em um estranho,
Curto período, amostra de um amor tamanho.

Nem após pedir as contas à velha guarda,
Pude ter paz, nem mesmo a chegada.
Você levou na realidade,
Meu consolo em lágrimas, sem felicidade.

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