Vermelho

Victor Carvalho
3 min readJun 3, 2024

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Vermelho conto

Palavra banhada. Em meu leito, olhei aos céus e ainda te amei. Sacrifício. E te amarei. Envelheci, mas lúcido ainda penso em nós, jovens. Tornar-me-ei cinzas junto aos meus amados, mas aquele sentimento antigo permanecerá intacto como uma fotografia tirada.

Poderíamos estar em descensão, mas nossas lembranças compartilhadas se mantêm mais vivas do que nunca. Uma única mente certamente compartilharia um único sentir, mas eu jamais poderia estar mais errado. Amei-te mesmo após a queda de minha juventude, mas você se perdeu em meio à tradução. Rasgou-me como um simples contrato de aluguel, e em nosso passado me afundei.

Juntos os cacos, sento-me junto a ti nesta mesa, e você apenas me olha com um olhar assassino. Sua intenção sempre foi essa. Que tragédia desesperadora isso foi! Em meu peito nada mudou. Como no início, tudo se fundou mais uma vez: um amor inocente.

Por tanto tempo, nunca voltará. Meus pontos se mantiveram abertos, à espera de meu cirurgião, que passou. O tempo se foi, mas sua lógica se manterá sempre a mesma? Uma evolução parada no tempo. Se nada foi tão importante, por que ainda me sinto preso a você? Sacrifício errôneo. Mantenho tudo aceso, um jovem perdido. Mantenho seu lugar vago, tempo que não volta mais. Mantenho sua memória viva aos demais. Lembranças presentes apenas em meu ser. Mantenho minha arte a te favorecer.

Estou aqui, revolto. Entreguei-lhe todo meu amor. Mantive minhas promessas. Foi-lhe entregue o impossível: minha juventude perdida. Cinco dias arruinaram minha vida. Pelo resto de minha existência cruel poderei saber que nada foi de graça de sua parte. Apenas me deixei levar por meus sentimentos, partidos dos ossos à cabeça, do coração aos pulmões. Minha parada cardíaca foi sua rua a me empacar. Nunca fui bom em contar piadas, mas minha maior graça já contada foi na noite de nosso casamento, quando pude ali lhe prometer minha alma. Hoje posso deixá-la partir em paz.

Minha posição foi desfavorecida. Minha visão posso distorcer ao te ver, mas nunca voltaríamos ao que éramos. Nossa história é apenas mais uma para uma vasta coleção em minha prateleira da decepção, no topo, sublinhada para que eu nunca pudesse esquecer.

Deixei para trás tudo que conhecia, desaprendi meu idioma, meu nascimento se tornou uma lenda. Esquecimento de quem sou. Nenhuma palavra poderia expressar tudo ao meu redor. Dentro de mim, uma fome que crescia. Coloco minhas mãos em meus olhos e nego ver minha vida acabar por um amor incondicional. Um fardo que carrego, está tudo presente, marcado por um vermelho que nunca sumirá. Vermelho do cabelo de quando te conheci naquele dia.

Vermelha poesia

Em meu leito, olhei aos céus, e te amei,
Sacrificado amor, sempre te amarei.
Envelheci, mas lúcido, penso em nós,
Jovens amantes, ecos da nossa voz.

Tornarei-me cinzas, junto aos amados,
Teu antigo sentimento, em mim guardado.
Intacto ficará, como fotografia,
Lembranças vívidas, não há melancolia.

Poderíamos estar em descensão,
Mas as memórias se mantêm em união.
Uma mente, um sentir a compartilhar,
Mas errei ao pensar que iríamos durar.

Mesmo após a juventude, te amei,
Mas na tradução, você se perdeu, eu sei.
Rasgou-me como contrato de aluguel,
Afundei-me no passado, amargo e fiel.

Junto aos cacos, sento à mesa com você,
Teu olhar assassino, intenção a se ver.
Tragédia desesperadora, foi o fim,
Mas em meu peito, o amor sempre assim.

Como no início, inocente, se fundou,
Mas nunca voltará, o tempo voou.
Meus pontos abertos, esperando o cirurgião,
Ele passou, o tempo se foi em sua oração.

Evolução parada, a lógica se mantém,
Se nada foi importante, por que a dor vem?
Sacrifício errôneo, mantenho aceso,
O jovem perdido, no tempo preso.

Teu lugar vago, o tempo não volta mais,
Lembranças em mim, aos demais.
Arte a te favorecer, mantida viva,
Revolto, entreguei amor, promessa cativa.

Perdi juventude, cinco dias arruinaram,
Minha vida cruel, os ossos quebraram.
Parada cardíaca, tua rua a travar,
Prometi alma, hoje posso a paz desejar.

Posição desfavorável, visão distorcida,
Nunca voltaremos ao que fomos, vida perdida.
Nossa história na prateleira da decepção,
Sublinhada no topo, eterna recordação.

Deixei para trás o que conhecia,
Desaprendi idioma, nascimento, utopia.
Esquecimento de quem sou, sem expressão,
Fome crescente, negação em progressão.

Minhas mãos nos olhos, nego o fim,
Amor incondicional, fardo sem fim.
Marcado por vermelho que não sumirá,
O vermelho do teu cabelo, o dia em que te vi, será.

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